A história da prótese odontológica

 

A história da odontologia, em seus primórdios, foi intimamente ligada à história da medicina, isso porque a área odontológica era considerada uma parte, um aspecto da medicina.

O homem lutava contra as doenças e para ele existia apenas um grande drama: a dor e o medo. No entanto, a evolução dos conhecimentos permitiu uma diferenciação. Aos poucos, foram sendo isolados os conhecimentos relativos à Odontologia, os quais, por fim, possibilitaram criação de algo mais específico. Este processo continuou, em um movimento contínuo de renovação.

 

 

A evolução do pensamento odontológico, entretanto, não se deu em uma marcha constante e uniforme no sentido do progresso. Essa marca sofreu muitas interferências, sendo também muito auxiliada por poderosos recursos.

Os conhecimentos odontológicos são de várias e remotas origens. Sendo assim, não há uma verdade moderna absoluta como também não existe uma sabedoria absoluta. Pode-se afirmar que a “Odontologia” é um lento e contínuo suceder-se de fatos e realizações, influenciados sempre pelos acontecimentos anteriores. Se ela pode ser definida assim, antevê-se a grande importância da sua evolução histórica, permitindo-lhe tornar-se uma ciência de idéias e fatos. A história da odontologia revelou-se, através dos tempos, como uma ciência experimental, no sentido filosófico. As idéias foram selecionadas. O mesmo se deu com os acontecimentos, com as coisas e pessoas. Como resultado decorreram as leis que possibilitaram o desenvolvimento do pensamento odontológico.

 

Dados Históricos

O progresso atual está apoiado nos pequenos avanços da ciência odontológica do passado. Assim, próteses parciais foram esculpidas em madeira e depois, em placas soltas até que hoje pode-se produzir as próteses parciais fixas. Ao lado dessa evolução deu-se também, a evolução dos instrumentos.

No entanto, pode-se afirmar que as próteses parciais fixas estavam em estado primitivo de desenvolvimento até o ano de 1850.

Antes dessa data, a prótese parcial engatinhava apresentando pequenos progressos aplicáveis a ela. Assim temos:

1805   Introdução do articulador dental.

1840   Articular com movimentos laterais e protéticos.

1856   Uso do cimento oxicloreto de zinco.

1857   Revestimento expansivo.

1857   Evolução da prótese parcial fixa pelo coroamento ao fim da raiz e atamento de um dente artificial à ele.

1858   A distância intercondilar e o ponto incisivo passa a ser quatro polegadas.

1866   Articulador que permitiu o movimento de abertura e movimentos laterais dos côndilos.

1871   Dente de porcelana artificial, a qual estendia-se uma barra de platina de cada: mesial e distal. As pontas dessa barra deveriam ser adaptadas em preparos, em dentes naturais adjacentes.

1873   Aparecimento da prótese total de liga de ouro com cúspides esculpidas.

1878   Aparecimento da prótese total open-faced.

1886   Aparece a porcelana de baixa fusão, fundida em molde de ouro.

1889   Construção de próteses totais de porcelana.

1896   Estudos sobre os movimentos mandibulares em relação à prótese dental. Invenção do articulador ajustável para movimentos individuais da mandíbula, registrando a inclinação individual dos côndilos, extra-oralmente.

1898   A porcelana de baixa fusão torna-se perfeita quanto à cor e durabilidade.

1900   Invenção do método intraoral de tomada de posições relativas aos côndilos.

1901   Uso de próteses totais de porcelana veneer.

1906   Introdução das próteses de ouro.

1907   A aplicação de fundições de ouro com um molde volátil possibilitou aperfeiçoamento nas próteses parciais fixas.

1910   Os métodos de fundição possibilitaram a eliminação do apoio gengival, em favor do bisel.

1928   Estudo de materiais usados na prática dental quanto às propriedades físicas.

1932 a 1933 Desenvolvimento da técnica da expansão higroscópica do revestimento para compensar da fundição. Determinação da diferença existente entre o percentual de contração do ouro em várias ligas.

1935 a 1940 Apresentação do hidrocolóide para inlays, próteses fixas. Uso das resinas sintéticas para completar as bases das próteses totais fixas e para restaurações dentais.

1952 a 1960 Introdução das mercaptanas e siliconas. Desenvolvimento dos discos de carburundum e ultra-high speed cord hand piecese do motor a água e ar handpieces.

 

A prótese dentária entrou em nova era, quando foi descrita a técnica da confecção de dentes artificiais. Esses dentes apresentaram um grande progresso, com introdução de ganchos e ranhuras.

Com os trabalhos de Black ( preparo das cavidades ) e de Tagart (aperfeiçoamento do método de fundição), o trabalho de próteses fixas, sob orientação científica, foram executados nos Estados Unidos.

No fim do século passado e no começo deste, os dentistas começaram a perceber que as próteses fixas não eram duráveis por que os dentes suporte contraíam moléstias periapicais, periodontais. Mas os pesquisadores demonstraram que isso não era verdadeiro, pois a prótese nada tinha a ver com a causa dos fracassos. O que havia era falta de conhecimento, de orientação para se trabalhar com esse tipo de prótese.

 

Primeiros Achados

A necessidade de tratamento de uma enfermidade dentária surgiu em tempos remotos. As primeiras civilizações humanas, no início, desenvolveram tentativas no sentido de recolocar os próprios dentes avulsos, quando ocorriam acidentes ou traumas. Mas logo em seguida, passou-se para a substituição do dente perdido por um elemento similar.

 

Os Fenícios

Os Fenícios viveram em 4000 a.C. Partindo da Caldeia, esse povo atingiu o litoral próximo aos montes da Galiléia, do Líbano e dos Nosairs e aí se instalou.

Para muitos historiadores, os Fenícios foram os verdadeiros precurssores da Prótese dentária. Seus conhecimentos, foram transmitidos aos outros povos do mediterrâneo. Esses conhecimentos constavam de dados terapêuticos sobre a Odontologia, principalmente referentes à habilidade da prótese.

Os elementos concretos, sobre os quais são baseados os conhecimentos da prótese dentária Fenícia, são principalmente duas testemunhas arqueológicas, conhecidas pelo nome de seus descobridores, como exemplares Gaillardot e Torrey.

Os dois exemplares são respectivamente dos séculos IV e V a.C. Foram executados com grande perfeição e suas relações práticas permitem que se suponha a existência de algo muito mais simples em épocas anteriores.

O exemplar Gaillardot foi descoberto em maio de 1862 pelo Dr. Gaillardot que fazia parte de uma missão francesa na Fenícia em um sepulcro da Necrópole de Sidone, hoje Saída, no Líbano. A peça, atualmente, encontra-se no Louvre. Trata-se de seis dentes, dois caninos e quatro incisivos, ligados com grande habilidade por um fio de ouro puro do comprimento aproximado de trinta centímetros e de diâmetro extremamente fino. O central e o lateral direito pertencem a outra pessoa e substituem os ausentes. No conjunto, este sistema protético desempenha as funções de substituir os dentes ausentes e de fixar os outros dentes a tipo férula. Sendo uma prótese parcial fixa no maxilar superior feminino

A peça de Torrey foi encontrada em 1901. Ela é uma mandíbula e foi achada pelo Dr. Charles Torrey, da Universidade de Yale, em escavações realizadas ao sul de Saída, bem perto onde Gaillardot fez sua descoberta.

A peça encontrada era uma mandíbula com prótese em ouro, construída por um fio de ouro que encerrava seis dentes anteriores com finalidade fixativa. A mandíbula, devido as rugosidades marcadas das inserções musculares devia pertencer a um homem muito forte.

 

Os Etruscos

Habitavam a faixa de terra delimitada pelos rios Arno e Tévere e o mar Tirreno.

Os sepulcros Etruscos falam sobre a prótese dentária. Ela foi encontrada no século VI AC, nos sepulcros de Tarquínia, hoje Corneto. Foi descrita por Van Marten, em 1885.

Os Etruscos eram ouríves e nessa arte desenvolveram técnicas de valor. Eles usaram aros soldados para solidarizar grupos de dentes, criando assim, um esteio para os dentes postiços. A liga empregada era de ouro quase puro, fundido em lâminas espessas e resistentes. A solda era de tão boa qualidade que não se alterou em contato com a terra durante tanto tempo.

Os dentes de substituição eram perfurados e depois fixados por meio de uma barra horizontal em toda a espessura. Certamente devido ao caráter sagrado do corpo humano, não podiam usar a não ser dentes da própria pessoa. Então, recorreram aos dentes dos animais, os quais eram reduzidos e adaptados, para fazer as suas próteses parciais fixas, ou então, removíveis.

 

Os Egípcios

Roemer-Pelizaeus Museum, Hildeshein.

Os egípcios também realizavam próteses e estas são consideradas as raízes da tecnologia odontológica. As próteses procuravam substituir o membro que falhava e também procuravam fixá-lo.

O melhor exemplar egípcio está no Museu Roemer-Pelizaeus na cidade alemã de Hildeshein. Ele é um splint de fio de ouro exumado pelo professor H. Junker, no ano de 1914, em um cemitério perto de Gisah, o qual data de 1500 a.C. Esse cemitério era de cortesãos; estava próximo às pirâmides.

Este antigo dispositivo protético consiste de dois dentes conectados com fio de ouro; são o primeiro ou segundo molar ligado ao terceiro molar. De acordo com o então diretor da Faculdade de Odontologia de Breslau, H.Euler, o dispositivo é mais provavelmente de uma férula para dois dentes adjacentes, para proporcionar retenção para um molar anterior, enfraquecido pela reabsorção radicular, no terceiro molar. Este achado não é representativo de uma prótese dentária mas demonstra a técnica do fio de ouro.

 

Os Romanos

A lei romana permitia o enterramento de ouro, só se ele estivesse nos dentes. Encontra-se o comentário lei em Cícero. Na literatura médica romana, no entanto, não há referência às próteses porque elas eram executadas por técnicos, servindo apenas para efeitos estéticos.

Marcial fala de uma dama que, à noite, removia seus dentes. Fala que seus lindos dentes eram de osso e de marfim. Isso porque era o tempo dos Césares e nessa ocasião, apareceu o marfim como material novo, sendo utilizado para fins protéticos.

Acredita-se que as próteses eram executadas pelos ouríves, mas seus trabalhos não foram descritos nos tratados médicos por razões sociais.

Os Romanos usaram próteses removíveis, mas havia também a prótese parcial fixa.

A técnica dos Romanos permaneceu inalterada até a Renascença.

 

Os Maias

Acredita-se que os índios do hemisfério ocidental chegaram aproximadamente há 15.000 anos provenientes da Ásia, pela então existente ponte de terra firme sobre o estreito de Bering. Emigraram na direção sul, até as Américas Central e do Sul, onde desenvolveu-se verdadeira multidão de povos indígenas, todos eles compartilhando certas semelhanças culturais básicas.

Os mais importantes entre estes povos foram os astecas, gente belicosa e amiga da guerra, que residiam na zona que é, modernamente, o centro do México; os Maias, povo pacífico, com uma cultura muito desenvolvida e que habitou a península do avançado, que viveu na cordilheira andina do atual Peru.

A história teve início por volta de 2.500 a.C, porém sua cultura atingiu o máximo esplendor entre os anos 300 d.C, e 900 d.C. Os Maias possuíam um saber matemático bastante desenvolvido. Além de sua perícia na arquitetura, tinham um conhecimento excelente do tempo, e criaram um calendário muito exato. Apesar de ser um povo basicamente da idade da pedra, já que suas ferramentas eram de sílex e suas armas de madeira afiadas com lascas cortantes de obsidiana, foram consumados fundidores e ferreiros de ouro, prata e, em menor grau, bronze. Sua arte da lapidação também foi notável, como demonstram as jóias gravadas de jadeita, hematita, ônix, turquesa, e outras pedras semi preciosas.

Apesar de se destacarem nos trabalhos em pedra e metal, não chegaram a praticar verdadeiramente uma odontologia corretora e restauradora para manutenção ou melhora de sua saúde oral. Seus trabalhos habilidosos com os dentes tinham finalidades estritamente rituais ou religiosas. Alguns pesquisadores supõem que seu principal incentivo era o adorno pessoal. Sabemos que os Maias levavam a cabo cerimônias religiosas elaboradas, nas quais o enegrecimento dos dentes e o clareamento da face e torso tinham um significado importante. Portanto parece razoável concluir que o adorno e a mutilação dos dentes formavam parte do culto.

Os Maias sabiam incrustar com habilidade lindas pedras em cavidades cuidadosamente preparadas nos incisivos superiores e inferiores e, em alguns casos, também nos primeiros molares. Não há dúvida que as cavidades eram criadas em dentes vivos. Faziam girar, com as mãos ou com uma furadeira de arco de corda, um tubo duro e redondo, parecido com um canudo de refresco. As pedras incrustadas se ajustavam de forma tão exata à cavidade, que muitas delas permaneceram no lugar durante mil anos! Como forma de aumentar a conservação das duas peças unidas, o espaço entre a pedra e a parede da cavidade era vedado por meio de cimentos.

Existem provas abundantes de que os Maias praticaram a implantação de materiais aloplásticos ( não orgânicos ) em pessoas vivas. Enquanto escavavam na praia dos Mortos, no vale Ulúa de Honduras em 1931, Wilson Popenoe e sua mulher encontraram um fragmento de madíbula de origem Maia, que datava do ano 600 d.C. . Este fragmento, que se encontra atualmente no Peabdy Museum of Archeology and Ethnology da Universidade de Harvard, foi estudado por Amadeo Bobbio, de São Paulo, Brasil, uma autoridade em implantes reconhecida em todo o mundo. Bobbio observou que três incisivos inferiores perdidos. Contrariamente à opinião inicial, segundo qual estes fragmentos teriam sido inseridos depois da morte, as provas radiológicas efetuadas por Bobbio em 1970 comprovaram a formação de osso compacto em torno de dois implantes, osso radiograficamente similar ao que envolveria um implante de lâmina atual. Em consequência, estes são os dois implantes endosteais (dentro do osso ) aloplásticos mais antigos já descobertos.

 

Os Japoneses

Quando o budismo foi introduzido no Japão no século VI, veio acompanhado de uma grande variedade de novas artes e técnicas. Por volta do século VIII, os japoneses dominavam a arte de talha de imagens de Budas de madeira, sendo possível que as primeiras próteses de madeira tenham sido confeccionadas nesta época. Sem dúvida os aspectos técnicos da manufatura de próteses já se achavam aperfeiçoados em começos do período Tokugawa.

No seu clássico trabalho do ano de 1728, o grande dentista ocidental Pierre Fauchard descreve duas próteses completas superiores, projetadas por ele mesmo, que dependiam, para a sua retenção, exclusivamente da pressão atmosférica. Ao que parece o significado fundamental de seu grande descobrimento se lhe escapou, pois seguiu aconselhando o uso de molas, na construção das dentaduras. Enquanto isto, os japoneses construíam próteses completas, superiores e inferiores, sustentadas simplesmente pela aderência e pressão atmosférica cerca de 200 anos antes. O fato destas dentaduras terem sido confeccionadas de madeira é também muito interessante. Foram encontradas mais de 120 dentaduras completas de madeira, que datam de princípios do século XVI, até meados do século XIX.

As próteses japonesas antigas eram talhadas de um único bloco de madeira, normalmente de árvores de aroma doce como o bluxo, a cerejeira, ou o damasqueiro. Era confeccionado um molde do maxilar desdentado com cera de abelha, e com base neste molde talhava-se um modelo, geralmente de madeira. Em seguida, talhava-se a dentadura, seguindo aproximadamente este modelo. Depois, o interior da boca do paciente era pintado com um pigmento vermelho, ou com tinta nanquim, e com base na impressão dos pontos salientes, a dentadura ia sendo trabalhada, ajustando-a à parte interior da boca.( Este procedimento não difere muito do método ocidental, em época mais recente, de modelar e ajustar na boca dentaduras com base de marfim ). A base se estendia até a prega mucobucal, para que aumentado o poder de retenção, e eram gravadas na superfície da dentadura as arestas irregulares do palato duro.

Os dentes artificiais eram confeccionados com lascas de mármore ou osso de animais talhados sob medida, e algumas vezes também eram utilizados dentes humanos naturais. Em lugar das molas posteriores, pregavam na base de madeira cravos de cobre e ferro, visando aumentara eficácia da mastigação. Se os clientes assim o exigissem, os dentes e suas bordas eram pintadas de negro, para indicar a condição matrimonial da mulher que iria utilizar a dentadura; finalmente, a prótese era inteiramente recoberta laca, para torná-la resistente à ação da saliva.

A prótese dentária superior japonesa mais antiga que se conhece pertenceu a uma sacerdotisa budista, Nakaoka Tei, conhecida familiarmente como Hotoke-hime, ou Dama do Buda que fundou o templo de Ganjo-ji em Wakayama, por volta de 1500. Entre seus objetos pessoais, que se encontram em seu templo, encontra-se um espelho, uma pedra de tinta, um leque, uma campainha, algumas relíquias e a prótese, da qual diz-se ter sido confeccionada pela própria sacerdotisa. Restos de óxido de ferro indicam que em outra época havia sido pintada de negro. Parece provável que, nestes tempos, as dentaduras de madeira fossem comuns nas zonas urbanas, já que Wakayama, no século XVI, era uma zona rural remota.

 

A Prótese no Século 18

 

Transplante Dental

Desde o início dos tempos, a substituição artificial de dentes caídos era efetuada com produtos de origem animal, como o marfim ou o osso, ou com a extração de dentes da boca de uma pessoa morta. Os primeiros geralmente eram insatisfatórios, pois absorviam odores e sofriam mudanças de cor. Quanto aos dentes humanos, estes eram escassos e caros, e a maior parte das pessoas sentia uma repugnância natural ao colocar um dente de cadáver na boca. No século XVIII, John Hunter argumentou sobre as vantagens de transplantar os dentes de um ser humano vivo diretamente para a maxila de outro ser humano ( ao que se opôs Berdmore, em favor de sua reputação ), e seu grande prestígio fez com que este duvidoso procedimento fosse aceito além do conveniente.

Era tão entusiasta de sua nova idéia, que implantou um dente humano, cuja raiz não havia se desenvolvido completamente ainda, na crista de um galo vivo. Assim, presenciou o crescimento, no interior do anal pulpar do dente, o fluxo de vasos sanguíneos e também presenciou o próprio dente enraizando-se com firmeza na crista. Isto levou Hunter a recomendar que o “scion” de dente humano ( como chamou ao dente implantado ) fosse de uma pessoa jovem, e fez o que, atualmente, nos parece uma recomendação inconsciente: que o dentista tivesse vários doadores esperando durante o transplante de um dente; se o primeiro dente não se ajustasse à cavidade, devia extrair outro dente da próxima pessoa, e assim sucessivamente, até que fosse obtido um bom ajuste! É surpreendente que o pai da cirurgia moderna, cujo considerável conhecimento tinha por base a investigação científica e a experiência prática, pudesse aconselhar procedimentos tão duvidosos.

Com o tempo, estes transplantes caíram em desuso ( embora tenham persistido durante o século XIV ) após a divulgação de repetidos fracassos e do reconhecimento do risco de transmissão de enfermidades ( especialmente sífilis ), devida aos satíricos da época, sobretudo Rowladson, que ridicularizou a prática e o surgimento dos dentes “minerais”, ou de porcelana.

 

Dentes Minerais

Um farmacêutico parisiense, Alexis Duchâteau (1714 – 1792), verificou que as próteses dentárias de marfim por ele usadas se manchavam, e cheiravam, depois que Duchâteau provava as misturas por ele preparadas. Em busca de uma solução, tentou fazer uma prótese dentária de porcelana, na fábrica de porcelanas Guerhard. Como não era dentista, e não tinha o hábito de fazer moldes,seus esforços fracassaram. Somente depois de ter-se associado a um dentista de Paris, Nicolas Dubois de Chémant, seus esforços foram recompesados.

Satisfeito por suas novas dentaduras, Duchâteau abandonou seu interesse pelos dentes de porcelana, voltando às suas lides na farmácia. Dubois de Chémant, entretanto, trabalhou ativamente, aperfeiçoando a invenção, o que se revelou uma tarefa difícil, visto que as próteses de uma peça devem resistir à distorção, ao serem levadas ao cozimento no forno. Ao longo de seus experimentos, Dubois de Chémant modificou por duas vezes a pasta mineral original, para que fossem melhoradas a cor e a estabilidade dimensional, e para a obtenção de uma melhor fixação dos dentes na base, também de porcelana. Com o tempo, os resultaram foram considerados satisfatórios por Chérmant, e em 1788 este dentista publicou seus descobrimentos em folhetos que reuniu na Dissertação sobre dentes artificiais, publicada finalmente em 1797. Em 1798 Dubois de Chérmant apresentou seu invento na Académie des Sciences e na faculdade de medicina da Universidade de Paris, e ambas as instituições aplaudiram seus esforços. Nesta época, recebeu uma patente real das mãos de Luis XVI.

Então, Duchâteau reapareceu em cena, pretendendo que Dubois de Chérmant havia plagiado seu invento, e solicitando a revogação da patente, o que lhe foi negado. Entretanto, muitos dos colegas de Dubois de Chérmant, devido provavelmente à inveja, se colocaram ao lado de Duchâteau e acusaram a Dubois de Chérmant, na corte, de roubo de suas idéias, entretanto, a lei reabilitou Dubois, reconhecendo sua patente como válida.